Vestida de chita

28 de novembro de 2007

Há no trabalho, segundo a natureza da obra e a capacidade do trabalhador, todas as gradações, desde o simples alívio do tédio às satisfações mais profundas.
Na maior parte dos casos, o trabalho que as pessoas têm de executar não é interessante, mas ainda em tais circunstâncias oferece grandes vantagens.
Em primeiro lugar, preenche uma boa parte do dia sem haver necessidade de decidir sobre o que se há-de fazer.
A maioria das pessoas, quando estão em condições de escolher livremente o emprego do seu tempo, têm dificuldade em encontrar o que quer que seja suficientemente agradável para as ocupar.
E tudo o que decidam deixa-as atormentadas pela ideia de que qualquer outra coisa seria mais agradável.
Ser capaz de utilizar inteligentemente os momentos de lazer é o último degrau da civilização, mas presentemente muito poucas pessoas o atingiram.
Além disso, a acção de escolher é fatigante.
Excepto para os indivíduos dotados de extraordinário espírito de iniciativa, é muito cómodo ser-se informado do que se tem a fazer em cada hora do dia, desde que tais ordens não sejam desagradáveis em demasia.
(Bertrand Russell-A Conquista da Felicidade)

19 de novembro de 2007

Se quereis conduzir alguém, deveis conhecer a sua natureza e os seus hábitos, e levá-lo por aí; ou os seus fins, e conduzi-los para eles ou então as suas fraquezas e as suas desvantagens, e dominá-los com elas, ou então as pessoas que se interessam por ele, e governá-lo por elas. Ao tratar com pessoas astuciosas, devemos considerar sempre os seus fins para por eles interpretar os seus ditos, e é bom dizer-lhe poucas coisas, e destas as que eles menos esperam.
Francis Bacon (Ensaios - Das Negociações)

A good man can be stupid and still be good. But a bad man must have brains.
(Aleksei Maksimovitch Pechkov)

Longa se torna a espera

E quando eu descobrir o segredo
Da neblina cinzenta
Que torna a água barrenta
E sem perdão me esmaga o peito

E quando se levantar de repente
A névoa que cobre o rio
Que gela tudo de frio
E escurece a corrente

Longa se torna a espera
Na névoa que cobre o rio
Lenta vem a galera
Na noite que quita de frio
E quando...

E quando apanhar finalmente
O barco para outra margem
Outra que finde a viagem
Onde se espere por mim

Terei, terei mais uma vez força
Para enfrentar tudo de novo
Como a galinha e o ovo...
Longa se torna a espera
Na névoa que cobre o rio
Lenta vem a galera
Na noite que quita de frio
E quando...

Tim (xutos & pontapés)

9 de novembro de 2007

Cavalo à solta

Minha laranja amarga e doce
meu poema
feito de gomos de saudade
minha pena
pesada e leve
secreta e pura
minha passagem para o breve breve
instante da loucura.Minha ousadia
meu galope
minha rédea
meu potro doido
minha chama
minha réstia
de luz intensa
de voz aberta
minha denúncia do que pensa
do que sente a gente certa.
Em ti respiro
em ti eu provo
por ti consigo
esta força que de novo
em ti persigo
em ti percorro
cavalo à solta
pela margem do teu corpo.
Minha alegria
minha amargura
minha coragem de correr contra a ternura.
Por isso digo
canção castigo
amêndoa travo corpo alma amante amigo
por isso canto
por isso digo
alpendre casa cama arca do meu trigo.
Meu desafio
minha aventura
minha coragem de correr contra a ternura.
(José Carlos Ary dos Santos)

The Police - Every Breath You Take

7 de novembro de 2007

Venho de dentro, abriu-se a porta:
nem todas as horas do dia e da noite
me darão para olhar de nascente
a poente e pelo meio as ilhas.
Há um jogo de relâmpagos sobre o mundo
de só imaginá-la a luz fulmina-me,
na outra face ainda é sombra
Banhos de sol
nas primeiras areias da manhã
Mansidões na pele e do labirinto só
a convulsa circunvolução do corpo.
Luiza Neto Jorge