Vestida de chita

17 de maio de 2008

Realmente, ela não tinha pensado que passara o tempo de matricular sua filha na escola. A menina era tão sabida, aprendia com facilidade, sem ninguém ensinar... Quanto mais tarde fosse à escola, melhor: menos tempo de escravidão entre quatro paredes, de humilhações e castigos corporais aplicados pelas professoras, hábito da época: bolos nas mãos, puxões de orelhas, joelhos sobre grãos de milho ou de feijão atrás de uma porta (...). Havia o exemplo de Olguinha: no primeiro dia em que foi à escola assistiu ao espancamento de um colega. No dia seguinte recusou-se a voltar. Não queria arriscar, não estava disposta a suportar brutalidades. Havia um ano que dona Josefina pelejava para que a menina retornasse aos estudos, sem resultado. Olga começava a suar frio, sempre que falavam em escola, entrava em pânico. Cláudio também regressara várias vezes da aula, de orelhas vermelhas, joelhos inchados. Com Tito, acontecera chegar em casa trazido pelo servente da escola, seguro pela orelha (...).

Minha professora não batia nos alunos nem os punha de joelhos sobre o milho ou feijão; tentava manter a disciplina da classe utilizando-se de réguas – mantinha sobre a mesa pelo menos uma dezena de réguas, todas enfileiradas – que atirava na cabeça da criança faltosa, com uma técnica muito especial: segurava numa das pontas da régua, fazia pontaria e... jamais errava o alvo.
(Zélia Gattai)